CONEXÕES PROTÉTICAS DOS IMPLANTES
IMPLANTES HEXÁGONO EXTERNO E HEXÁGONO INTERNO, por Ronaldo RETTORE Jr.
Certamente, a Implantodontia não é, de forma alguma, uma especialidade cirúrgica (Cirurgia/Periodontia), muito menos um ramo da prótese, mas sim uma especialidade protética que depende da cirurgia para a instalação de pilares intra-ósseos mundialmente denominados de implantes osseointegráveis e da Periodontia para a manutenção da sua integridade.
A Implantodontia tem por finalidade a restauração da oclusão (função) e estética, baseada numa estrutura de titânio inserida em tecido ósseo, através de uma técnica totalmente estabelecida e clarificada. Por causa disso, a ênfase na indústria de implantes migrou para resoluções estéticas mais satisfatórias tentando a simplificação do tratamento com a utilização de implantes dentários.
O protocolo original de Brånemark exigia que alguns implantes fossem inseridos na região interforaminal, a fim de se restaurar a arcada inferior totalmente desdentada, unindo-os através de uma barra onde uma prótese fixa seria construída. Mas para que os implantes pudessem ser inseridos, um hexágono externo (poderia ter sido um interno) foi adicionado na plataforma desses implantes. Sendo assim, esse hexágono não tinha o papel de funcionar como um sistema anti-rotacional, mas apenas como dispositivo de preensão e inserção.
Somente mais tarde, quando os implantes foram usados para reconstrução de elementos dentários unitários, o hexágono se tornou a concepção mecânica para evitar que a coroa girasse ao redor do seu próprio eixo. Porém, mecanicamente a altura desse hexágono, de somente 0,7 mm, nunca foi desenhada para suportar as forças oclusais geradas durante a mastigação. Portanto, algumas modificações tiveram que ser inseridas nos parafusos que fixavam as coroas em posição. Mesmo assim, a altura do hexágono externo para os outrora implantes Brånemark, atualmente produzidos pela Nobel Biocare, nunca foi mudada e várias companhias fizeram seus implantes com o mesmo tipo de resolução externa para que os sistemas de próteses pudessem ser compatíveis.
Para aumentar a estabilidade na interface plataforma-coroa e também facilitar a restauração completa implante-coroa, novos desenhos de conexão entre a coroa e o implante surgiram no mercado para satisfazer objetivos estéticos, funcionais e técnicos. Na verdade, o que foi possível observar é que variados tipos de transmucosos (abutments) e pilares foram inventados, fazendo com que o clínico aumentasse ainda mais o armamentário de componentes protéticos para a restauração definitiva sobre o implante, até mesmo, dificultando a correta decisão de qual o componente ideal a ser empregado numa determinada restauração, gerando confusões e controvérsias que persistem até hoje em relação a indicação do uso de um implante com hexágonos externo ou interno.
Vários outros desenhos de hexágono interno foram lançados no mercado, variando o tipo da articulação implante- conexão e a quantidade de lados internos para a resolução protética. Com relação à estética não existe diferença quando um sistema de hexágono externo ou interno é empregado e, é impossível descobrir caso a prótese não seja removida. Já no que diz respeito à microinfiltração parece óbvio que os implantes tipo Cone Morse tenham uma infiltração diminuída, mas são necessários trabalhos de pesquisa mostrando qual a vantagem desse aspecto na preservação da integridade do espaço periimplantar com relação aos implantes de plataforma expandida e abutments reduzidos, pois ainda não existe nada comprovado na literatura mundial nesse aspecto.
Com relação à estabilidade da prótese os implantes que ofertam a possibilidade de polígonos internos para a confecção da restauração protética, tendem a uma maior segurança para o parafuso protético, prevenindo um deslocamento lateral e menor efeito de movimentação vertical resultante do afrouxamento do parafuso de retenção (protético). Os implantes de resolução interna, mas com característica de cone morse, como os implantes dos Astra Tech, ITI Dental Implant, Morse-Lock e Titanium Fix fornecem uma ancoragem reforçada para a combinação componente de ancoragem (implante)-elemento retentivo (parafuso ou prótese), gerando uma soldadura fria entre esses elementos.
É bom ressaltar que um implante hexágono externo que recebeu um abutment tem um parafuso muito menor para sustentar a prótese parafusada em posição quando comparado ao mesmo tipo de implante como uma prótese cimentada sobre um pilar aparafusado diretamente ao implante. O elemento transmucoso está ausente. Não existem diferenças claras entre a microinfiltração e estética para uma restauração implanto-suportada a partir de um sistema de hexágono externo ou interno.
Existem sim, diferenças com relação à distribuição de forças dentro do implante devido ao tipo de conexão coroa-implante. Vale salientar que in vitro, devido à pequena espessura da região do pescoço, um implante hexágono interno é muito menos resistente a uma força tangencial de falência (estresse de cisalhamento) do que o implante hexágono externo, cuja região é mais robusta. Teoricamente, então, o primeiro seria menos resistente do que o implante hexágono externo nesse segmento.
As verdadeiras implicações clínicas decorrentes dessa observação necessitam ainda ser avaliadas. Muitos estudos clínicos e biomecânicos, além de ensaios mecânicos, precisam ser publicados para que seja possível comparar as diferenças existentes entre cada um desses tipos de conexões modulando o estresse aplicado sobre prótese unitária-implante ou nas possíveis combinações do conjunto prótese-implantes. Estresses de cisalhamento e compressivos devem ser comparados em pacientes com oclusão sem traumas e aqueles bruxômanos, com o intuito de observar se o estresse incidido afeta mais diretamente a estrutura de suporte (osso), gerando reabsorção ou à estabilidade coroa-implante, devido ao estresse transmitido ao parafuso protético.