Histórico
Nos primórdios alguns cirurgiões consideravam a dor uma conseqüência inevitável do ato cirúrgico, não havendo uma preocupação, por parte da maioria deles, em empregar técnicas que aliviassem o sofrimento relacionado ao procedimento. As primeiras tentativas de alívio da dor foram feitas com métodos puramente físicos como pressão e gelo, bem como uso de hipnose, ingestão de álcool e preparados botânicos. Por volta dos séculos IX a XII a esponja soporífera tornou-se um dos métodos mais populares de prover analgesia. Preparada a base de mandrágora e outras ervas, tinha como seus principais compostos morfina e escopolamina.
1 – Agentes Inalatórios
Horace Wells percebeu as propriedades anestésicas do óxido nitroso em 10 de dezembro de 1844, quando participou de uma exibição de um “cientista itinerante”, Gardner Quincy Colton. Na ocasião Wells notou que um jovem chamado Samuel Cooley não se deu conta que havia sofrido uma lesão na perna enquanto estava a inalar o óxido nitroso. Em 1845 Wells fracassou em sua tentativa de demonstrar publicamente uma extração dentária sem dor com o uso do óxido nitroso. Tal fracasso o perturbou profundamente culminando com seu suicídio em 1848.
2 – Anestésicos Locais
Em 1884 Sigmund Freud estudava os efeitos estimulantes da cocaína no sistema nervoso central. Carl Koller percebeu que a amostra de cocaína recebida de seu amigo Freud, ao entrar em contato com a língua, a deixava anestesiada. Percebeu então, a possibilidade de utilização de uma solução de cocaína para aplicação tópica em cirurgias oftalmológicas. Koller conduziu então, juntamente com Gustav Gartner estudos com sucesso em olhos de sapos, coelhos e cachorros. Tendo sido uma das primeiras aplicações dos anestésicos locais.
Introdução
Nos dias de hoje, aumentou bastante o número de pessoas portadoras de doenças sistêmicas que procuram tratamento odontológico de rotina, como é o caso dos diabéticos, hipertensos e cardiopatas, em grande parte como reflexo direto da maior expectativa de vida destes indivíduos. Isto tem estimulado ou obrigado o cirurgião-dentista a buscar novos conhecimentos para que o atendimento destes pacientes seja feito com maior segurança, mais especificamente com relação à administração das soluções anestésicas locais e medicamentos de uso odontológico, além de outros cuidados de ordem geral.
1 – Anamnese Dirigida
Se durante a anamnese de rotina, o cirurgião-dentista constatar que o paciente é diabético, hipertenso ou cardiopata, deve então direcionar a avaliação no sentido de se obter informações sobre o grau de controle da doença ou histórico de complicações recentes.
No caso dos pacientes diabéticos, isto é obtido pela avaliação dos níveis de glicemia e presença de outros sinais e sintomas clínicos, como a xerostomia, sede intensa, micções freqüentes ou fome exagerada, os quais são indicativos do estado atual que a doença se encontra.
Quanto aos portadores de doença do sistema cardiovascular, estes pacientes são considerados como compensados ou controlados, quando se enquadrarem numa das seguintes condições, com uma boa margem de segurança:
- período mínimo de 6 meses após infarto do miocárdio;
- período mínimo de 6 meses após um acidente vascular cerebral (AVC);
- período mínimo de 3 meses após cirurgia de revascularização do miocárdio como “ponte” de veia safena o artéria mamária;
- angina “pectoris” estável (ausência de episódios constantes de dor no peito);
- insuficiência cardíaca congestiva estável (assim avaliada pelo médico);
- hipertensão arterial controlada – pressão diastólica até 100 mm Hg;
- freqüência cardíaca em repouso menor que 100 batimentos/ minuto;
- nenhuma mudança recente quanto aos medicamentos ou orientações médicas.
2 – Avaliação dos sinais vitais
A avaliação dos sinais vitais faz parte do exame físico, devendo ser feita em toda consulta inicial, ou antes de cada sessão de atendimento, no caso de pacientes que requerem cuidados especiais, principalmente nos portadores de doenças cardiovasculares. Apesar de muitas vezes ser negligenciada pelos cirurgiões-dentistas, a obtenção de valores relativos ao pulso carotídeo, freqüência respiratória, pressão sangüínea arterial e temperatura, com o paciente em repouso, deve constar do prontuário clínico odontológico.
3 – Regime alimentar e ajuste da dose dos medicamentos
Nos pacientes diabéticos, em casos de procedimentos cirúrgicos que provoquem limitação da função mastigatória ou nos atendimentos de maior duração (endodontia de molares, preparos protéticos, etc.), é importante que o médico seja informado, pois em alguns casos pode ser necessária a prescrição de um regime alimentar para os períodos pré e pós-operatórios imediatos, associada a eventuais ajustes na dose de insulina ou dos agentes hipoglicemiantes orais, com o intuito de se prevenir um possível episódio de hipoglicemia.
4 – Anestesia local
No plano de tratamento da maioria dos pacientes que requerem cuidados especiais, um assunto que ainda causa muita controvérsia diz respeito à escolha da solução anestésica local. Nos dias de hoje, quando os cirurgiões-dentistas solicitam informações aos médicos responsáveis pelo tratamento de pacientes diabéticos ou com risco cardiovascular, é comum receberem como resposta uma “cartinha” com os seguintes dizeres: “Paciente encontra-se, no momento, apto a receber tratamento odontológico.
Obs.: Não usar anestésicos locais com vasoconstritores”. Isto acarreta uma certa indecisão ao profissional de odontologia quanto a qual procedimento adotar, ou seja, atender à recomendação médica e empregar uma solução anestésica local sem vasoconstritor, mesmo sabendo que a mesma irá proporcionar uma anestesia pulpar de curta duração, ou assumir o “risco” de usar soluções anestésicas com vasoconstritor.
Com relação a isto, pode-se dizer que a maioria dos médicos raramente usa adrenalina em sua prática clínica, com exceção talvez dos anestesistas, cirurgiões gerais ou os que atuam em serviços de emergência ou centros de terapia intensiva. Quando a adrenalina é usada na medicina, isto acontece na maioria das vezes em situações de emergência, onde a dose empregada é muito maior que aquela utilizada em odontologia. Segundo MALAMED4 , a dose média de adrenalina IM ou IV (na concentração de 1:1000 ou 1:10.000), empregada no tratamento da anafilaxia ou parada cardíaca é de 0,5 a 1 mg, enquanto 1 tubete anestésico com adrenalina a 1:100.000 contém apenas 0,018 mg.
Portanto, é compreensível que muitos médicos pensem na adrenalina em termos das doses empregadas na medicina de emergência, e não nas formas mais diluídas como acontece nas anestesias locais em odontologia.