O cirurgião bucomaxilofacial Ronaldo Rettore Júnior, de Belo Horizonte
A busca por uma fórmula para se manter jovem vem revolucionando a ciência. A Toxina Botulínica é um desses produtos que vem sendo utilizados para tratamentos estéticos da face com o intuito de retardar o surgimento de marcas de expressão, mas nos dois últimos anos tem conquistado espaço para diminuir dores provenientes do apertamento dentário (bruxismo), aliviando as dores de cabeça e relaxando os músculos da face. Nesta entrevista, o cirurgião bucomaxilofacial, Ronaldo Rettore Júnior, explica como essa toxina vem sendo utilizada na Odontologia, com enorme sucesso contra o envelhecimento.
O que é Toxina Botulínica?
É uma neurotoxina, produzida pela bactéria Clostridium botulinum que, em condições apropriadas, cresce e produz sete sorotipos diferentes de toxina (A, B, C1, D, E, F e G). Para fins terapêuticos é usado o sorotipo A, devidamente industrializado, que quando aplicado em pequenas doses, bloqueia a liberação deacetilcolina (neurotransmissor responsável por levar as mensagens elétricas do cérebro aos músculos), impedindo, assim, sua contração.
Como essa toxina começou a ser usada com fins terapêuticos?
No final da década de 60, o oftalmologista americano Alan B. Scott, que buscava alternativas para o tratamento não cirúrgico do estrabismo, obteve do Dr. Edward J. Schantz, amostras da toxina botulínica tipo A para testá-la em músculos extraoculares de macacos. A experiência foi bem sucedida e Scott publicou seu primeiro trabalho sobre o assunto em 1973, confirmando a toxina botulínica tipo A como uma alternativa eficaz para o tratamento não cirúrgico do estrabismo.
Ainda na década de 70, Scott recebeu autorização do FDA (Food and Drug Administration), órgão que regula o setor de medicamentos dos Estados Unidos, para utilizar a toxina em seres humanos. Conduzindo estudos durante os anos de 1977 e 1978, ele descobriu que o produto, quando injetado, relaxava os músculos. Deduziu então que uma aplicação local – em determinados músculos – interrompia momentaneamente o movimento muscular anormal e, dessa forma, corrigia o problema.
Foi, assim, a partir do uso terapêutico, que surgiu o uso cosmético. Quando o casal canadense Jean e Alastair Carruthers, oftalmologista e dermatologista respectivamente, observou a melhora das rugas em pacientes tratados para indicações terapêuticas, como blefaroespamo, iniciaram os primeiros estudos na área. Deste então, o uso cosmético da toxina botulínica tipo A evoluiu e se expandiu em todo mundo.
Botox é a marca americana da toxina botulínica e foi a primeira a ser liberada para uso estético (em rugas de expressão), por isso é o mais conhecido. Existem, ainda, o Dysport, da Suécia e o Prosigne, da China.
Nos Estados Unidos, ela foi aprovada em 2002 pelo FDA (Food and Drug Administration) para o uso cosmético e em 2004 para hiperidrose até hoje é a única marca de toxina botulínica tipo A aprovada para este fim naquele país.
No Brasil, a marca BOTOX® foi aprovada em 1992 para indicações terapêuticas e, em 2000, para o tratamento de rugas e hiperidrose axilar e palmar. Por aqui, existem ainda, as marcas Dysport, da Suécia, e o Prosigne, de Israel. Mas, por ser a primeira aprovada, BOTOX® tornou-se muito conhecido e, por isso, sinônimo do procedimento.
Quais seus fins terapêuticos na Odontologia?
A toxina botulínica surgiu na Odontologia nos tratamentos estéticos da face para retardar o surgimento de marcas de expressão, mas nos dois últimos anos tem conquistado espaço para diminuir dores provenientes do apertamento dentário (bruxismo), aliviando as dores de cabeça e relaxando os músculos da face. Dessa forma, o Botox que vinha sendo utilizado para solucionar os problemas estéticos passou a ser usado pelos dentistas para tratamento de problemas funcionais como o bruxismo.
Isto aconteceu a partir de março de 2014, quando o CFO (Conselho Federal de Odontologia) conferiu autorização legal para que os dentistas, com formação específica, pudessem adotar esta nova terapia. Portanto, problemas funcionais e alterações estéticas da face podem ser tratadas pelo dentista. Muito embora tenha iniciado seu uso com finalidade estética, o Botox também pode ser utilizado na abordagem terapêutica das dores faciais, no tratamento de pacientes edêntulos para instalação de implantes dentários e nos chamados “sorrisos gengivais”.
A substância age no neurônio motor impedindo a liberação de acetilcolina, que é a substância que promove a contração da musculatura. Quando aplicada nos músculos mastigatórios ou nos músculos da expressão facial, a toxina botulínica impede a contração dos mesmos.
Entende-se que a beleza e a harmonia da face estão em relação íntima com as estruturas da boca, tais como dentes, gengiva e lábios. Portanto, em uma abordagem estética da face, o resultado pleno somente pode ser conquistado se houver este entendimento. Uma aplicação isolada de Botox para tratamento de rugas de expressão pode não obter o resultado máximo de estética se a avaliação odontológica não preceder esta abordagem. E a partir deste ponto, os dentistas passaram a ocupar seu espaço na abordagem desta técnica de tratamento estético da face.
Quando ela é aplicada (por dentistas) na região dos músculos da expressão facial, estes estarão sendo bloqueados, evitando assim a formação de rugas de expressão e proporcionando um perfil jovial.
Quais as principais indicações na Odontologia?
As principais áreas de atuação do Botox pelos dentistas como objeto de otimização da estética facial, podem ser descritos:
a) Após a instalação de implantes para adequar o funcionamento da mastigação durante a fase inicial da reabilitação dentária.
b) Após as cirurgias reconstrutivas da face, tais como a cirurgia ortognática e os enxertos ósseos dos maxilares.
c) Após os tratamentos restauradores odontológicos, tais como as próteses, coroas e facetas de porcelana.
d) Compensações de desequilíbrios dos músculos da mímica facial ou da mastigação, tais como as paralisias ou traumas de face.
Enfim, a aplicação do Botox para finalidade estética facial atinge seu máximo potencial quando a mesma, sendo realizada por dentistas, consegue conciliar os benefícios das diferentes ferramentas odontológicas.
Há limitações em seu uso? Quais?
Sim. Existem restrições do ponto de vista orgânico sistêmico. Não deve ser utilizada em pacientes que apresentem histórico de hipersensibilidade e em áreas inflamatórias.
Mal utilizada, a toxina botulínica pode comprometer a expressão facial de uma pessoa. Dependendo do ângulo da sobrancelha, do peso da pálpebra, do formato do olho, ela fica sem as rugas mas também sem movimento facial algum, com um rosto artificial. Pessoas que trabalham com a expressão facial, como os atores e cantores, devem evitar a utilização dessa terapia estética, por causa desse efeito.
Além de levar em conta o formato do rosto do paciente e a adequação da terapia, o dentista deve conhecer muito bem a anatomia muscular do rosto e as zonas de perigo, como são chamadas as regiões de risco para aplicação do botox.
Nesse sentido, alguns cuidados são necessários: a área tratada não deve ser manipulada ou massageada nas primeiras horas após a injeção para evitar a difusão do produto para outros músculos, além daqueles selecionados como alvo do tratamento. Alguns especialistas recomendam aos pacientes permanecer na posição vertical (de pé ou sentado) e evitar atividade física intensa nas quatro horas seguintes à aplicação.
Qual é a duração do tratamento e do seu efeito?
Não há cirurgia no tratamento. O dentista irá realizar o diagnóstico, planejamento e indicação do tratamento. As aplicações da droga são realizadas em um único atendimento. Os efeitos iniciais podem ser percebidos cerca de 48 horas após as aplicações, tendo o efeito pleno cerca de 03 semanas após as infiltrações. O tempo de permanência da toxina no organismo depende de diversos fatores, mas em média a duração da ação é de cerca de seis meses. Sendo os seus efeitos lentamente neutralizados pelo organismo ao final de 08 meses;
Desta forma, indica-se a renovação das aplicações a cada período de seis meses para que os efeitos possam ser mantidos, dependendo de cada indicação.
Qualquer pessoa pode se submeter ao tratamento com dessa toxina?
Sim. Mas há contra indicações. Por exemplo, ela não pode ser usada em pacientes crianças e jovens que não atingiram a idade mínima de 16 anos. Também em pacientes com hipersensibilidade conhecida à droga (toxina botulínica), ou em áreas inflamadas, em pacientes com doenças terminais e naqueles que fazem uso crônico de antiinflamatórios
Qual é a faixa etária predominante que busca esse tratamento? Por quê?
A predominância do público está relacionado com o aparecimento das rugas de expressão ou da necessidade de otimização do tratamento odontológico nas indicações acima citadas. Geralmente, pacientes com idade acima dos 30 anos.
Há efeitos colaterais?
As complicações da aplicação são pequenas e transitórias. Não se tem registro de relatos de reações alérgicas. Ocasionalmente, a injeção pode produzir hematomas no local ou dor de cabeça breve. Tais efeitos podem ser mais pronunciados em pacientes que usam regularmente os analgésicos aspirina ou varfarina, os quais devem usar bolsa de gelo na área tratada antes e após as injeções. O intervalo de seis meses entre cada aplicação deve ser respeitado rigorosamente, pois o uso frequente da toxina pode levar ao desenvolvimento de anticorpos à substância, e neste caso ela deixará de produzir resultados.
Podemos dizer que o Botox é um dos grandes avanços da área de odontologia? Por quê?
A utilização da toxina na área da face com finalidade funcional e estética está entre os principais avanços da Odontologia dos últimos anos. Sendo uma técnica pouco invasiva com resultados muito previsíveis e satisfatórios.
Quais profissionais podem tratar com essa toxina?
No Brasil apenas médicos, biomédicos e dentistas.